quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Sofrimento no trabalho

Qual é então o significado social do suicídio? Deve-se considerar este ato como banal, ordinário? O suicídio deve então ser considerado como um risco suplementar do trabalho, assim como os demais riscos? Devo doravante admitir que o trabalho ordinário, aquele que se realiza no dia a dia, traz em si esse poder de me conduzir, um dia, ao meu turno, ao suicídio? E devo admitir que um suicídio, consequentemente, não serve para nada?

A ausência de reação coletiva após um suicídio não pode ser considerada como neutra. Ela tem um impacto inevitável, agrava o sentimento de impotência, de resignação, mesmo de desespero. Essa ausência sela, ainda mais do que antes do evento, um pacto de silêncio entre os colegas sobreviventes.

Esta é a razão que faz com que um caso de suicídio arquivado sem consequências aumente consideravelmente os riscos para a saúde mental de todos os que "permaneceram". Não raro - vários são os casos recenseados - um suicídio agrava brutalmente a degradação do tecido social da em presa no seio da qual, em um lapso de tempo relativamente breve, se assiste a outro, ou a vários outros suicídios que se encadeiam.

De uma pespectiva psicopatológica, é necessário concluir que a falta de elucidação da mensagem endereçada à comunidade de trabalho por aquele que lhe sacrificou a vida é um erro prático e deontológico. Acarreta consequências sobre o aumento da vulnerabilidade dos colegas, como acabamos de constatar; ocasiona sequelas ainda à distância, particularmente nos filhos como em toda a família do trabalhador que se foi. A elucidação da mensagem é uma etapa importante e incontornável para a prática do luto que deverá ser cumprida pelos membros da família e os próximos. Pode-se aprofundar a análise das consequências sobre os filhos, insistindo, particularmente, sobre o fato de que a opacidade do sentido de uma conduta tão grave fragiliza as crianças em relação aos riscos suicidários.

Trecho do capítulo 1 do livro Suicídio e Trabalho - O que fazer? de Christophe Dejours & Florence Bègue

É preciso decifrar as mensagens e enfrentar o silêncio para que o sofrimento no trabalho alcance outros desfechos.


segunda-feira, 1 de julho de 2013

Crise - Parte II: Aspectos do Processo

A definição de crise proposta no post anterior (Processo subjetivo de vivência ou experimentação de situações de vida, nas quais condições internas e externas mobilizam uma pessoa e demandam novas respostas para as quais ela ainda não adquiriu, não desenvolveu ou perdeu a capacidade, repertório ou recursos capazes de dar solução à complexidade da tarefa em questão.) traz oito aspectos do processo, cada um com a sua importância: demanda, condições internas e externas, resposta, domínio, complexidade, processo, subjetividade e solução.

A demanda é o ponto de partida do conceito de crise, já que se não há uma exigência, não há crise. A demanda é essencial no processo pois cria uma pressão e um desequilíbrio, mantendo o sujeito mobilizado. Ela força o sujeito a se mover em determinada direção a fim de reestabelecer o equilíbrio inicial, característica que ressalta que o desenvolvimento deve optar por uma ou outra direção, mobilizando recursos de crescimento.

O sujeito está continuamente sob a ação de forças internas e externas, que quando bem organizadas mantêm o equilíbrio dinâmico do sujeito. As relações e interações do sujeito com seu meio (condições externas) e a força e o domínio do aparelho psíquico (condições internas) participam da configuração da crise, e é importante não menosprezar a participação de nenhuma das duas forças. As condições internas e externas delimitam as possibilidades de reposta e a resolução como um todo da crise, por isso conseguir separar os fatores internos dos externos pode ajudar no estabelecimento de estratégias de intervenção e prevenção. Fatores externos ao sujeito estarão sempre exigindo novas respostas, que só serão possíveis se internamente o sujeito estiver preparado e forte o suficiente para responder.

A resposta é outro aspecto da crise e está diretamente relacionada com a demanda. Toda demanda exige uma reposta, que por sua vez depende da mobilização do sujeito. A reposta pode ser satisfatória, mas também pode ser uma omissão ou recusa. Quando o sujeito não se mobiliza, fatalmente acaba encontrando soluções parciais ou de compromisso. Este tipo de solução é superficial, e inclusive questiono se realmente pode ser chamado de solução. A solução de compromisso é um estado precário onde o sujeito tenta conscientemente manter a demanda fora de sua vida para evitar ter que dar uma reposta satisfatória. Isso leva a um constante estado de vigilância e vulnerabilidade. Por meio da intervenção é possível modificar ou remover os fatores associados à demanda, mas a modificação do meio ou do significado subjetivo da demanda não excluem a necessidade de responder. As mudanças podem apenas facilitar as repostas ou evitar que a crise chegue em sua fase crítica. A característica mais interessante da resposta é que, independentemente da sua qualidade, ela é sempre necessária. Haverá uma crise caso não haja uma resposta para a demanda, independente se a resposta for um investimento para resolver a situação ou uma omissão.

Nem toda demanda gera uma crise, e é aqui que entra o quarto aspecto da crise. A crise, sob esse aspecto, só existe quando o sujeito não adquiriu, não desenvolveu, não domina ou perdeu a capacidade para enfrentar uma demanda. Caso o sujeito possua os recursos necessários, não haverá crise. Sendo assim, é possível que externamente se configure uma crise mas que isso não se transforme em uma crise psicológica. É bom ficar atento a isso para não confundir uma necessidade específica do contexto de trabalho, por exemplo, com uma nova experiência de vida. O sujeito pode resolver sem dificuldades um problema do trabalho sem entrar no processo de crise se ele tiver repertório e recursos para lidar com a situação. Essa capacidade de enfrentar novas situações e demandas pode ser progressivamente alcançada e fortificada ao longo do desenvolvimento, à medida que o sujeito passa por diversas experiências e assume diferentes papéis. De certa forma o sujeito vai treinando e experimentando identidades e respostas mais ou menos funcionais e adaptativas conforme é apresentado às demandas da vida. Assim o sujeito pode estar mais ou menos pronto para armadilhas futuras, e isso depende muito do investimento que o sujeito faz para resolver os próprios problemas. Claro que sempre espera-se que o desfecho da crise seja satisfatório e leve ao amadurecimento, mas não tenho dúvidas que o investimento é o mais importante do ponto de vista desenvolvimental.

O aspecto processual da crise é o mais fundamental e talvez um dos mais difíceis de ser compreendido, porque é muito fácil, se não automático, associar a crise a um momento pontual e específico. Ao contrário disso, a crise tem sua história própria. Tem antecedentes e precursores, seu desenvolvimento próprio e um desfecho. É importante entender isso porque elementos das crises passadas acabam se relacionando com situações e superações posteriores, a indispensável aquisição de habilidades. Um elemento importante desse processo são os fatores de risco e de proteção, que podem dificultar ou favorecer a solução. Por ser um processo, a crise não surge do nada. Sendo assim acredito que alguns sinais podem alertar para uma situação que tem potencial para se agravar, a não ser que sejam identificados adequadamente e medidas preventivas sejam adotadas. Isso pode ser feito pelo próprio sujeito, caso ele tenha condições mínimas de auto-análise, ou por familiares e amigos. Se conhecer bem é um bom meio de identificar antecedentes e fatores de risco. Quem está vivendo a crise muitas vezes não percebe que existem possibilidades de solução, e isso pode dificultar um bom desfecho. Porém, só quem está vivendo o problema sabe o quanto é doloroso e angustiante, e por esse e outros motivos um apoio especializado é importantíssimo; alguém que mostre que a superação é possível. É de se esperar que a crise também tenha desfechos menos desejáveis, como a formação de sintomas, quadros patológicos ou padrões crônicos de não-adaptação. Nesses casos, uma nova estrutura pode se formar ou dificuldades podem se acumular, dificultando a superação de outras situações no futuro. Uma última consideração a fazer sobre a característica processual da crise é sobre suas etapas, principalmente sobre a atenção dada a uma etapa em especial. Sem dúvidas a fase crítica da crise é a mais enfatizada e lembrada. É nessa fase que há uma ruptura e a formação de sintomas agudos ou atuações inadequadas; é claramente o momento mais difícil e que necessita de algum tipo de intervenção. Mas valorizar demais essa etapa da crise pode levar a negligência da dinâmica da crise e dos elementos que podem indicar alternativas de prevenção e até mesmo de intervenção.  Além disso, a supervalorização da fase crítica da crise contribui para uma visão preconceituosa de quem está em crise, e isso é o que essas pessoas menos precisam.

Por mais teorizações que sejam feitas sobre o assunto, a crise psicológica é um processo experiencial e portanto subjetivo. A crise é um processo no qual o sujeito usa de funções psicológicas e da interação com o meio para a atualização das suas necessidades nos mais variados contextos, como pessoal, relacional, familiar, social, histórico e cultural. A crise é claramente subjetiva, porém fatores sociais e ambientais frequentemente estão associados à vivência da crise. Aqui é possível perceber dois elementos separados mas que estão sempre relacionados: o aspecto objetivo e o aspecto subjetivo da crise. O primeiro refere-se ao evento externo desestabilizador do equilíbrio interno, o fato concreto que desencadeou a crise. O segundo refere-se aos mecanismos de enfrentamento, que são internos; é a maneira como encaramos a crise.

O último aspecto da crise é a solução. O equilíbrio natural e desejável dos seres vivos é o equilíbrio dinâmico autônomo. Entretanto, na crise, é preciso uma mudança de estado para manter esse equilíbrio. Essa mudança de estado exige investimento e modificação das condições de sustentação e autonomia, portanto um sujeito que passa por uma crise inevitavelmente será modificado por ela. Além disso, existem três tipos de solução da situação de crise. O primeiro tipo é a superação, que pode ser alcançada passando-se ou não pela fase crítica da crise. A superação pode ser entendida como uma oportunidade de aquisição de competências, expansão do repertório pessoal, aumento da auto-estima , consolidação da identidade, ampliação da autonomia, da responsabilidade, da liberdade e da maturidade. É o desfecho mais desejado e que traz mais benefícios, mesmo que não seja alcançada assim de forma tão ideal. Mesmo em meio ao sofrimento e angústia o sujeito é recompensado quando investe na superação da crise. Mas a crise também nos mostra a possibilidade de fracasso, de nos sentirmos incapazes de responder adequadamente. O segundo tipo de solução, a estagnação, é a acomodação em um nível de equilíbrio inferior ao anterior. Na estagnação o sujeito parece não conseguir enfrentar a situação de maneira adaptativa e acaba evitando, tornando-se vulnerável a rupturas em situações futuras. A ruptura é o terceiro tipo de solução, onde há a restrição ou rigidez do repertório interno, mesmo diante de dor ou sofrimento elevado, perda de liberdade, autonomia e da capacidade de enfrentamento de situações cotidianas. Popularmente esse pode ser considerado o “fundo do poço”. É preciso ressaltar que nem todas as pessoas que dão respostas claramente desadaptativas estão em crise. É possível que essa seja a sua maneira usual de ser, o seu melhor nível de adaptação. Essas são casos sérios e diferenciados, e não podem ser confundidos com situação de crise. Por isso a sintomatologia não seja o melhor critério para caracterizar a crise.




terça-feira, 11 de junho de 2013

Crise - Parte I: Peculiaridades e Desdobramentos

Antes de intervir ou prevenir uma crise, é preciso compreendê-la da melhor maneira possível. Explorando o conceito de crise é possível identificar seus elementos e a relação entre esses elementos, mantendo em mente que crise não é sinônimo de manifestação sintomática.

Podemos considerar a crise como um processo subjetivo de vivência ou experimentação de situações de vida, nas quais condições internas e externas mobilizam uma pessoa e demandam novas respostas para as quais ela ainda não adquiriu, não desenvolveu ou perdeu a capacidade, repertório ou recursos capazes de dar solução à complexidade da tarefa em questão. Essa definição mais ampla sobre crise psicológica se contrapõe ao uso do termo crise para designar um ponto de decisão, suscitando que crises ocorrem o tempo todo durante a vida. A crise, então, não se torna algo restrito, e passa a ser nada mais que um momento de desenvolver novas habilidades. Isso não é um reducionismo da crise, mas desmistifica a ideia de crise e traz esse processo mais para perto do dia a dia da vida das pessoas.

Mais importante que a solução em si parece ser a função da crise, que seria a possibilidade de aquisição de competências e o desenvolvimento de repertório pessoal para resolvê-la. Deixando qualquer (pré)conceito de lado, seria muito útil entender que a vivência da crise está associada ao aumento desse repertório de respostas e de competências, processo que fortalece o ego. Possivelmente sem passar pelas crises que passamos e continuamente passaremos não seríamos capazes de superá-las, ou no mínimo aprender com elas.

Crises mal superadas podem indicar a não aquisição de uma competência, e apontam para prejuízos moderados ou graves que precisam ser observados. Algumas vezes é preciso a atuação de um profissional para ajudar o sujeito a minimizar esses prejuízos ou evitar novas crises. Dependendo do caso é mais apropriada uma intervenção ou uma psicoterapia, que se diferenciam pelos objetivos: a intervenção em crise tem o objetivo de auxiliar o sujeito a retornar ao seu nível anterior de funcionamento e superar a fase crítica da crise, já a psicoterapia objetiva a transformação das condições de vulnerabilidade que favoreceram a emergência da fase crítica e assim evitar futuras crises.

         Sem dúvidas as crises vividas ao longo da vida formam nossa personalidade à medida que levam à internalização de diferentes modos de reagir, e assim as soluções que damos para as nossas crises são assimiladas em nossa estrutura. Pelo fato de transformarem ou fragmentarem estruturas antes estáveis, as crises podem ser vistas como estruturantes. Nossa estrutura afeta nosso funcionamento, por isso a psicodinâmica também está relacionada à crise e à estrutura. A psicodinâmica da crise revela sua característica processual e subjetiva, e mostra os aspectos motivacionais relacionados. A psicodinâmica diz muito a respeito do conflito em que o sujeito se encontra quando precisa administrar desejos e necessidades em um contexto de contradições. E a crise está diretamente envolvida nisso, pois surge a partir de um ou vários conflitos, mais ou menos duradouros. Considerando a estrutura e a psicodinâmica fica evidente que um sujeito não consegue agir como quiser, ele é de certa forma delimitado por sua estrutura. Outro conceito que está relacionado à crise mas que não deve ser confundido com ela é a psicopatologia. Não é correto restringir a crise ao momento em que os sintomas aparecem, até mesmo porque nem toda a crise irá resultar em psicopatologia (a maioria não resulta). Assim como a crise é um processo, os sinais e sintomas que fazem parte de uma psicopatologia não surgem do nada e sem motivo. Perceber isso durante o processo de desenvolvimento mostra a relação entre sintomas e psicodinâmica, e permite associá-los aos significados subjetivos na experiência. As estratégias defensivas e o modo de responder acabam se consolidando na estrutura, podendo formar padrões de uma psicopatologia. É importante ficar atento para que tipo de estratégias estão sendo usadas e internalizadas, a fim de impedir que padrões pouco adaptativos se tornem parte da estrutura do sujeito. Crise, psicodinâmica, estrutura e psicopatologia estão sempre relacionadas e entender alguns desses termos ajuda a entender os outros, sempre tomando o cuidado de analisar cada caso especificamente.


terça-feira, 4 de junho de 2013

Uma história de luto complicado: a viúva que come as cinzas do marido.




Casey é uma norte americana que, ao perder o marido Shawn de uma maneira totalmente inesperada, ainda muito jovem, adquiriu um hábito que imediatamente a alivia da perda, como se pudesse, literalmente, internalizar a presença de seu marido, numa estratégia de impedir que ele se vá e se torne "apenas uma memória".

Ela vivencia um luto possivelmente complicado, em que a elaboração se tornou extremamente difícil e encontra-se impossibilitada de processar a realidade do acontecimento de uma maneira tranquila e equilibrada. Ingerir as cinzas do marido tornou-se, então, uma forma de evitar essa realidade e garantir, a partir de suas próprias percepções, a perpetuação da presença do marido dentro de seu imaginário. Mas ao mesmo tempo em que vivencia a sensação de internalizá-lo, vivencia culpa e desamparo por imaginar que suas cinzas não estarão ali para sempre.

Ao participar do programa "minha estranha obsessão", Casey pode compartilhar com a família o sofrimento pelo qual estava passando e teve, finalmente, a assistência profissional de que precisava. Não apenas para impedi-la de realizar um comportamento prejudicial para sua saúde física, mas para realizar um trabalho de elaboração desse luto, questionando-se sobre essa experiência e sobre seus próprios sentimentos. Com o tempo, acredita-se que Casey tenha se tornado capaz de se fortalecer internamente novamente e tenha conseguido localizar essa dor diretamente no acontecimento, não se sentindo mais culpada ou desesperada por internalizá-lo de qualquer maneira.

Com ajuda profissional, o luto se transformou de uma dificuldade em lidar com a perda desse objeto em empoderamento, ou seja, uma nova capacidade de se posicionar frente a essa nova realidade, essa nova visão de mundo. Casey transformou sua vivência melancólica diante da perda do marido, caracterizada pela perda inconsciente de um objeto idealizado, em um luto esperado e com menos sofrimento, onde a perda consciente do ente querido permite que ela volte seu afeto para outros objetos.



quarta-feira, 29 de maio de 2013

Morte do casal e um suicídio

A fatalidade que ocorreu em SP na última semana, em que um homem assassinou dois vizinhos do prédio a partir de uma briga por conta de barulho, é mais um exemplo de acontecimento violento que pode estar vinculado a vivências de emoções extremas, capazes de ameaçarem a própria segurança e de pessoas próximas. 
Apesar de não ser possível, ainda, compreender os motivos pelos quais o empresário cometeu um homicídio e um suicídio, é plausível afirmar que ele vivenciava, naquele momento, uma sobrecarga emocional suficiente para motivar um comportamento impulsivo e, frente a suas condições de saúde atuais, impulsionar um atentado contra si mesmo, talvez por envolver uma soma de significações, realidades e necessidade de novas estratégias para lidar com o mundo que não estavam presentes.
Frequentemente vivenciamos situações de sobrecarga emocional, iniciadas a partir de diversos acontecimentos com os quais não conseguimos manter o controle ou planejar soluções imediatas. O acúmulo de frustrações e de emoções destrutivas podem ocasionar diversos comportamentos prejudiciais para a própria vida, muitas vezes vinculados a uma ameaça à própria segurança, a partir de repertórios auto-destrutivos ou até mesmo à segurança alheia, por atuações impulsivas, motivadas por raiva, indignação e outros diversos sentimentos explosivos. 
A filha do casal, com pouco mais de um ano de idade, experienciou uma situação com um potencial traumático muito elevado. Ela assistiu a morte dos pais, debruçou-se sobre a mãe e, apesar de não possuir uma compreensão literal dos acontecimentos, como um adulto o faria, vivenciou, de sua maneira subjetiva,  uma situação extremamente delicada. É inegável a necessidade de que haja um acompanhamento voltado para o acolhimento desse trauma, não só ocasionado pela morte dos pais em tão tenra idade, mas por conter características que tornam a experiência um pouco mais complicada: o fato de envolver morte violenta, inesperada e resultar em diversas problemáticas e mudanças drásticas para a vida da criança e dos outros familiares. 
A equipe Phoenix lamenta essa fatalidade e impulsiona desejos de recuperação às famílias, tanto das vítimas do homicídio, quanto da vítima do suicídio. É evidente que ambos os acontecimentos implicam em revolta, angústia e sofrimento e todo o apoio possível é de extrema importância agora. 

quinta-feira, 23 de maio de 2013

The Bridge - A ponte


O documentário, dirigido por Eric Steel, trata sobre o suicídio de uma maneira ousada e instigante. Ao longo de filmagens, em 2004, da conhecida Golden Bridge de São Francisco (USA), um dos maiores cenários de suicídios do mundo, diversos casos foram documentados. A partir de entrevistas com as famílias, o diretor mostra, de uma maneira contraditoriamente acolhedora, todo o contexto em que a vítima se encontrava, discutindo e questionando temas como doença mental, responsabilidade civil e, claro, suicídio.
Apesar de ter recebido críticas e não ser um documentário muito leve de se assistir, cabe um olhar sensibilizado e, principalmente, um alerta para o cuidado, os sinais e estratégias de prevenção. o suicídio pode ser evitado e o comportamento suicida é um grande sinal de que há um sofrimento psíquico que precisa ser assistido. 

quarta-feira, 15 de maio de 2013


Compreendendo o luto

Ana Molina da Silva
Psicóloga Clínica




            A morte já foi vista como parte da vida, um acontecimento natural pelo qual todos precisam passar, algo a se vivenciar em família, dentro das casas, com paz e tranquilidade. Mas com o advento do capitalismo, com as influências do higienismo na família e no contexto de trabalho, a morte passou a ser evitada a todo custo e as patologias tornaram-se sinônimo de fracasso e improdutividade (Kovács, 2008).
             A morte foi deslocada das salas de visita para a UTI, os avanços tecnológicos se destinaram a adiar e driblar o fim o mais perfeitamente possível, o moribundo não tem mais espaço para manifestar sentimentos frente à morte e o luto é encarado de forma velada (Combinato e Queiroz, 2006). Surge uma cultura do silêncio para a morte, com a frequente negação de sua existência, junto à falta de preparo para lidar com sua natural chegada (Kovács, 2005). Ao mesmo tempo, a explosão da urbanização e o avanço médico-tecnológico voltado para o prolongamento da vida, frente a todas as consequências sociais referentes às desigualdades, aumentaram o índice de mortes violentas e inesperadas, colaborando para um contato negativo com o morrer (Kovács, 2008). Essa visão é muitas vezes compartilhada pelos veículos de comunicação de maneira violenta e mal compreendida. Como afirma Ariès (1975/2003), “a morte domada passou a ser a morte interdita” (Combinato e Queiroz, 2006).
            O processo de luto se dá frente a uma perda de algo significativo, com o qual o indivíduo possui vínculo, para o qual projeta e investe energia e afeto (Esslinger, 2012). Ele ocorre como um rompimento de um equilíbrio, um desequilíbrio da homeostase, causando uma vulnerabilidade do sistema. A vivência do luto coloca o homem frente a frente com ameaças à segurança, mudanças importantes na vida e na família (Parkes, 2009), pode ocorrer de maneira simbólica, frente a fases do desenvolvimento, a partir de separações amorosas, perdas de emprego, de animais de estimação e até de processos de adoecimento (Combinato e Queiroz, 2006).
            Esses acontecimentos que provocam mudanças importantes na vida, sobretudo os inesperados, desafiam o que pode-se denominar de mundo presumido. Essa nova investida em uma reorganização de um mundo até então compreendido, provoca uma crise durante a qual pode-se vivenciar inquietude, tensão, ansiedade e indecisão (Parkes, 2009), sensações de desamparo, desorganização e desespero. Com a perda, uma parte de si se vai e, portanto, não implica apenas em uma nova realidade sobre o mundo, mas uma nova realidade sobre si mesmo (Kovács, 2002).
            A energia projetada ao “objeto”, frente ao processo de perda, precisa ser reprojetada. Frequentemente o objeto perdido é internalizado pelo Ego, mas isso ocorre de maneira rápida, durante um processo de elaboração do luto, a partir do qual o indivíduo realiza reorganizações e pode voltar-se para novas projeções de energia (Mendlowicz, 2000).
            No entanto, fatores referentes ao vínculo com o objeto/pessoa perdida, levando em consideração o apego, relações de dependência e laços familiares e afetivos, bem como características da perda em si, como de caráter inesperado, prematuro, violento, traumático, com desaparecimento do corpo ou suicídio, unidos a todo o histórico de perdas anteriores e à capacidade de resiliência (Esslinger, 2012), podem vir a caracterizar um luto complicado. Nesse caso, o indivíduo investe a energia anteriormente projetada ao “objeto” em si mesmo de forma prolongada, pode vivenciar desamparo, dor, negação, inibição e cronificação (Kovács, 2008). A própria recusa ao luto caracteriza-se por um congelamento do “objeto” no Ego, uma incorporação, o que torna a elaboração muito dolorosa e por vezes acompanhada por distorções da realidade (Mendlowicz, 2000).
            O processo de elaboração do luto pode seguir por dois caminhos apresentados por Parkes (2009) como “orientação para a perda” e “orientação para a restauração”. A primeira consiste em uma busca dolorosa pelo “objeto” perdido e quando é adotada de maneira persistente pode configurar um luto crônico, que se prolonga ao longo do tempo e desenvolve diversos outros sofrimentos secundários. A segunda consiste em uma motivação grande para a reparação e a reorientação em um mundo que parece ter perdido o significado e, quando adotada de maneira persistente, pode configurar um luto evitativo, a partir da negação da perda, ocasionando em um adiamento das emoções, com persistente inibição de sensações físicas e emocionais.
            Para Bowlby (1993), como afirma Caterina (2007), o luto é uma vivência de ansiedade de separação. A constante motivação para ligar-se ao “objeto” perdido é o principal motivo do luto patológico (Mendlowicz, 2000). Ainda para Bowlby (1993), segundo Combinato e Queiroz (2006), existem quatro fases do luto que variam em duração e intensidade, caracterizadas por torpor, saudade e busca da figura perdida, desorganização e desespero e a final fase de organização e aceitação da perda. Mas essas fases não precisam seguir um padrão e uma ordem cronológica (Caterina, 2007). O entorpecimento, a descrença e o fracasso em integrar a morte traumática ao mundo presumido são defesas contra os sentimentos de desamparo e insegurança e diante de perdas violentas, é comum vivenciar intensa ansiedade, hipervigilância e espanto frente a qualquer lembrança, caracterizando um luto traumático (Parkes, 2009).          
            Para Maria Julia Kovács (2002), a criança já vivencia a morte desde a tenra idade. O apego à mãe, abalado inúmeras vezes por separações e reencontros, gera sensações de desespero e desamparo, semelhantes às reações emocionais vivenciadas no luto. Esses fatos representam, talvez, a primeira relação com a perda e o primeiro repertório comportamental e emocional referente a ela. Ao contrário do que se pensa, a criança já compreende a existência da morte, a partir de perdas inerentes à vida, mas talvez a observe como um fenômeno de não-movimento e desaparecimento, com caráter reversível, como observado nas personagens da TV, e não finito, como compreendido pelos adultos.
            Ainda na infância, a partir de vivências de separações e reencontros com os pais, as crianças ficam expostas a situações que demandam o desenvolvimento de fatores emocionais frente ao desamparo consequente dos afastamentos, mas também frente às reações emocionais dos pais referentes ao padrão de apego com seus filhos e à maneira como reagem às solicitações de contato e cuidado. Parkes (2009) demonstra, a partir de teorizações de Ainsworth e de estudos com extensos questionários com pessoas enlutadas, pacientes ou não, desenvolvidos por Bowlby, que as hipóteses sobre o apego possuem íntima ligação com as reações emocionais às perdas na fase adulta e à maneira como o sujeito “resolve” o luto.
            Os apegos inseguros, por exemplo, podem ser manifestados por crianças que reagem com muito desamparo às situações de separação, apresentando choros e crises de raiva com o retorno da mãe. Essa, por sua vez, frequentemente se demonstra controladora e hipervigilante em relação à segurança de seu filho, diminuindo a possibilidade de autonomia e formando uma ansiedade frente ao não desenvolvimento da autoconfiança e aos relacionamentos interpessoais. Essas crianças, na fase adulta, podem vivenciar extrema ansiedade frente a situações de perda, especialmente se tiverem algum vínculo de dependência com a pessoa perdida.
            Os apegos evitadores são desenvolvidos por crianças que não possuem uma boa aceitação de vínculo e expressão de emoções frente à separação, por parte dos pais. Elas podem vir a se tornar adultos que utilizam estratégias evitadoras reativas a situações de perdas, negando-se a procurar ajuda e auxílio de pessoas próximas, com dificuldades para aceitar a aproximação e o amor de familiares, fatores tão importantes no processo de elaboração do luto.    
            Os apegos desorganizados se caracterizam por reações emocionais ambivalentes frente às situações de separação na infância. A criança se manifesta de maneira imprevisível e inconsistente, tanto na separação quanto na aproximação com as mães. Esse padrão frequentemente ocorre quando os pais se sentem impotentes e desesperados em relação às demandas de cuidado dos filhos, muito provavelmente como reação a processos traumáticos ou debilitantes vivenciados próximos ao nascimento. Frente a essa situação, a criança desenvolve sensações de impotência e desesperança e, quando vivenciadas na fase adulta, a partir de situações de perda, podem estar vinculadas a altos níveis de ansiedade e pânico, bem como a altos riscos de se envolver com o abuso de álcool e outras substâncias.

Considerações Finais

            O luto é uma reação emocional resultante de processos de perda de “objetos” com os quais se estabeleceu um forte vínculo. Por se tratar de um contato íntimo com as emoções e por estar vinculado a diversos fatores, o luto pode ser vivenciado de diversas maneiras, a depender das estruturas emocionais e mentais do sujeito, aos seus padrões de vínculos, às suas aprendizagens e, também, à capacidade de obter apoio familiar e social.
            Semelhante a uma crise, a vivência de um luto está vinculada a uma modificação profunda nos referenciais de mundo, implica uma transformação de ideais e expectativas. Esse rompimento com uma visão da realidade gera desconforto, ansiedade e angústia e demanda um processo de elaboração e reorganização de ideias, não somente relacionadas ao mundo externo, mas à própria identidade, que se abala com a perda de um “objeto” que até então fazia parte de sua composição.
            Reações patológicas no luto, que frequentemente estão relacionadas a fatores como caráter do falecimento, nível de proximidade e dependência, condições emocionais para reação, além de oportunidade de se apoiar em familiares e na sociedade podem ser evitadas quando o indivíduo está amparado por um apoio profissional acolhedor, que trabalha para uma elaboração da perda e para o fortalecimento de recursos emocionais para reagir a esse desequilíbrio. O luto é, portanto, um fenômeno que deve ser estudado e compreendido amplamente por profissionais da saúde e poderia ser retratado e verbalizado pela sociedade de uma maneira menos traumática, amedrontadora e violenta, o que tornaria a morte um acontecimento menos temido, em suas diversas implicâncias e situações.       


Referências Bibliográficas

Caterina, M.C. (2007) Luto adulto: fatores facilitadores e complicadores no processo de elaboração.

Combinato, D.S. e Queiroz, M.S. (2006) Morte: uma questão psicossocial.
Esslinger, I. (Comunicação pessoal, 24 de novembro de 2012)

Kovács, M.J., (2002) Morte e desenvolvimento humano.
Kovács, M.J., (2005) Educação para a morte.
Kovács, M.J., (2008) Desenvolvimento da tanatologia: estudos sobre a morte e o morrer.
Mendlowicz, E. (2000) O luto e seus destinos
Parkes, C.M. (2009) Amor e perda, as raízes do luto e suas complicações.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Vivência subjetiva decorrente da perda do trabalho:     
o luto pelo não-trabalhar

Ana Paula Morais
Psicóloga Clínica


         Resumo

Nossa experiência com o trabalho vai muito além do status social, do salário e das tarefas que precisam ser cumpridas. Há um envolvimento cognitivo e, sem dúvidas, afetivo, que está intimamente conectado com os significados do trabalho e o sentido que damos a ele. Este artigo se propõe a esclarecer que o trabalho tem uma função fundamental na vida dos sujeitos e a compreender o sofrimento decorrente da perda do trabalho. O luto por não trabalhar é um processo subjetivo legítimo e particular para cada sujeito, entretanto o sofrimento decorrente dessa vivência não necessita ser eterno e insuportável. A psicologia clínica pode, e deve, se aproximar do mundo do trabalho a fim de auxiliar nas dificuldades referentes a essa dimensão da vida.

Palavras-chave: trabalho, perda, luto.

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Desde a Revolução Industrial no século XVIII, a concepção de homem e sua relação com o trabalho modificaram-se de maneira importante. Com a Revolução, os países tiveram um propulsor sem precedentes para o seu processo de industrialização, e a organização política foi fortemente afetada pelo poder de comércio e pelas novas transações econômicas. As formas de produção, a urgência por mão de obra, as mudanças familiares e sociais que a nova economia trouxe tomaram proporções globais, onde o modo de perceber o mundo foi irreversivelmente transformado, em maior ou menor grau, ao redor do mundo.
A importância econômica do trabalho. A partir deste momento, o capital tornou-se um símbolo da capacidade de se comunicar nesse novo contexto em que a língua falada é a economia em expansão. Filho da Revolução Industrial, o capitalismo passou a ser o mediador entre os indivíduos e o consumo, fazendo do trabalho assalariado fonte de subsistência. O dono dos meios de produção empenhava-se em transformar o trabalho em lucro por meio da mão de obra, impulsionando a produtividade e o crescimento econômico. Já para o trabalhador, o trabalho representava um modo de continuar sobrevivendo e um posicionamento frente a nova estrutura social que se delineava. O trabalho, enquanto ação, informa o que somos e de que maneira nos posicionamos no meio social. As sociedades modernas, então, passaram a ver no trabalho mais do que sua inicial característica econômica. (Antunes, 2002 – Socialização, trabalho e cidadania) Sua relação com o trabalho mudou quando este passou a ser encarado também como essencial para o exercício da cidadania, uma afirmação da dignidade humana e uma prática importante para a socialização dos indivíduos em uma sociedade capitalista. Sendo assim, o trabalho, que antes vinha se configurando como o eixo em torno do qual se construíram as sociedades modernas e indispensável para o seu desenvolvimento, agora afirma definitivamente sua centralidade.
Pode-se questionar a real centralidade do trabalho em nossas vidas, e criticar o quanto a simples reprodução dos contextos sociais no cotidiano acaba por naturalizar o papel do trabalho nesta sociedade. São questionamentos válidos e importantes de serem feitos, afinal a falta de reflexão sobre o papel do trabalho pode levar a uma preocupação com as técnicas e a eficácia dos métodos que se encerram em si mesmas, perdendo de vista o significado laboral das atividades que realizamos. A proposta deste artigo não é a naturalização de realidades, mas sim o esclarecimento de que o trabalho de fato exerce uma função fundamental na vida dos sujeitos e a compreensão do sofrimento decorrente da perda do trabalho.
Significados do trabalho. Diante da proposta deste artigo, e considerando que o processo de luto se dá diante da perda de um objeto de estima, é indispensável compreender como o trabalho adquire essa característica particular na vida dos indivíduos. O pressuposto do trabalho é uma relação de transformação mútua entre o homem e a natureza, que gera significado. É através do trabalho que a ação de dar significado à natureza se concretiza, da mesma forma que a relação entre sujeito e objeto é mediada pelo significado (Codo, 1997). O significado que surge e que medeia é peça chave na dimensão laboral da vida humana.


O trabalho e suas implicações subjetivas

Os significados e sentidos do trabalho são pesquisados há anos pelas mais diversas áreas do conhecimento. Alguns estudiosos defendem a distinção entre os termos, enquanto outros os utilizam como sinônimos. A despeito da problemática dos conceitos, a etimologia da palavra sentido, originária do latim sensus, remete à percepção, significado, sentimento. Pode-se considerar que os significados são construídos coletivamente em um determinado contexto histórico, econômico e social concreto, enquanto os sentidos são uma produção pessoal em função da apreensão individual dos significados coletivos nas experiências do cotidiano. Uma revisão da literatura mostra que mesmo havendo diferentes estudos sobre significado e sentido, o que há em comum entre eles – e provavelmente a questão mais importante – é que ambos são produzidos pelo sujeito a partir de sua experiência concreta na realidade (Tolfo, Coutinho, Almeida, Baasch & Cugnier, 2005).
Útil para discussão deste artigo é a definição que Morin (2001) apresenta de sentido do trabalho como uma estrutura afetiva formada por três componentes: significado, orientação e coerência. O significado refere-se às representações que o indivíduo tem de suas atividades e o valor que lhe atribui; a orientação é a inclinação para o trabalho, o que ele busca e o que guia suas ações; e a coerência é o equilíbrio que o indivíduo espera de sua relação com o trabalho. Sendo a relação do sujeito com o trabalho uma dimensão afetiva, é compreensível que a falta de trabalho gere um sentimento de perda semelhante ao que se desenvolve no processo de luto.
Pesquisas realizadas pelo grupo MOW (1987) e por Morin (2001) apontam que mesmo que tivessem condições de viver confortavelmente para o resto da vida, as pessoas continuariam trabalhando, pois o trabalho, além de ser uma fonte de recursos financeiros, é um meio de se relacionar com os outros, de se sentir parte integrante de um grupo, de ter uma ocupação e de ter uma meta a ser atingida na vida. É indiscutível que o trabalho transborda sentido individual e social, é um meio de produção da vida de cada um ao permitir subsistência, criar sentidos existenciais ou contribuir na estruturação da identidade e subjetividade.
O trabalho como uma atividade genérica torna-se uma forma de relacionar-se com coisas e pessoas, e em consequência disso leva à configuração de identidades, jeitos de ser e existir no mundo compartilhado. Sendo assim, o desemprego é, frequentemente, a origem de experiências de solidão, desamparo e desespero (Sato e Schdmit, 2004). Essa vivência subjetiva decorrente da perda do trabalho não pode ser compreendida dissociada do contexto de vida do sujeito, do contrário seria incorrer em uma abstração. Trabalhar é condição fundamental para viver, não apenas viver materialmente ou socialmente, mas além de tudo subjetivamente. O trabalho é fonte não só de sofrimento, mas também de estruturação pessoal. Entre a subjetividade e o sujeito está a singularidade, a insistência de uma singularidade que, entre outros aspectos, está no plano da afetividade. A forma como cada um se relaciona com o trabalho e como este estrutura e se estrutura em sua personalidade é muito particular, porém não há dúvidas sobre o investimento afetivo implicado nesse processo.  A perda do trabalho poderia ser vivenciada, então, como a perda de um objeto – pessoa, coisa ou situação -  onde se investiu afeto. (referência?) Por perda do trabalho, no presente artigo, entende-se a impossibilidade de trabalhar decorrente de qualquer situação (aposentadoria, incapacidade por motivo de saúde, entre outros). A retirada do afeto investida a um objeto pode levar a um processo que ocorre em vários momentos da vida e por diversos motivos: o luto.


O processo de luto

            O luto é uma reação natural, comum e esperada após o rompimento de um vínculo. Um processo de elaboração de uma perda significativa, que não se limita a casos de morte mas também a situações irreversíveis como separação e aposentadoria. A perda implica necessariamente um interesse pelo que foi perdido e pode vir acompanhada de sofrimento intenso pelo objeto significativo perdido, resultando em um processo dinâmico, idiossincrático e multidimensional. Cada um experimenta o processo de luto à sua maneira, porém espera-se que este não se estenda demasiadamente e que tenha uma resolução saudável e estruturante para o sujeito. Enlutar-se é estar envolvido em uma transformação de esquemas internos com repercussões externas, e essa experiência pode se tornar estressante em algum momento e fazer com que o enlutado se sinta desamparado.
            Há uma importante contribuição de Freud (1917) para a compreensão do luto, que foi o início das investigações e teorizações sobre pessoas que perdem algo de forma irreversível. Segundo esse autor, o luto tem dois destinos possíveis: a elaboração do luto ou o fracasso na elaboração, que levaria à melancolia. A diferenciação entre os dois processos é que no primeiro, a perda do objeto é consciente e o teste de realidade é eficaz na percepção de que o objeto não está mais ali, permitindo que o enlutado volte sua libido para um novo objeto de afeto, o que nem sempre é uma exigência fácil de ser realizada. Já no segundo processo, o que se perde é um objeto idealizado, um fracasso no teste de realidade e a perda está no campo do inconsciente, frequentemente resultando em uma investida libidinal voltada para o próprio ego do sujeito. Ocorre uma identificação da pessoa com o objeto, sua internalização no ego e atitudes hostis que seriam dirigidas inicialmente ao objeto perdido. As características do luto e da melancolia são semelhantes: desânimo profundo, perda de interesse pelo mundo externo, inibição generalizadas das atividades e incapacidade de investir afetivamente (amar). A diferença está na diminuição da auto-estima acompanhada de auto-acusações severas e a ambivalência de sentimentos em relação ao objeto que acontecem na melancolia. Isso impede a aceitação da perda e torna o processo de luto longo e doloroso. As duas propostas freudianas para lidar com a perda do objeto estimado não encerram as possibilidades de vivência do luto, que pode não ser bem elaborado sem necessariamente resultar em melancolia.
            A discussão sobre o tema é ampliada pelos estudos de Parkes (1998), que entende o luto como uma importante transição psicossocial na experiência humana. Um vínculo rompido vivenciado na idade adulta pode ter consequências nos âmbitos somático, social, emocional e cultural, e estudar o luto requer a ampliação da experiência humana a uma variedade de conhecimentos para além do psiquismo. É incontestável o impacto da cultura no processo de elaboração do luto; as relações entre desenvolvimento psíquico, traumas, doenças mentais e luto perpassa crenças, valores coletivos e o que culturamente entende-se sobre perdas (separação, aposentadoria, doença, morte, entre outros). O luto pode ser uma reação comum e esperada diante do rompimento de uma relação significativa – incluindo a relação entre o indivíduo e seu trabalho – impactando o indivíduo de maneira a priori imensurável. Portanto, é fundamental acrescentar aos estudos e à discussão deste assunto como a cultura influencia o processo de elaboração do luto e como ela pode auxiliar o sujeito a viver esse processo.
            As teorizações dos autores aqui apresentados não restringem as formas de vivenciar o luto, apenas contribuem para elucidar os processos psíquicos que podem acontecem com aqueles que passaram por uma perda irrecuperável. Cada pessoa possui sua história pessoal, social e cultural que a leva a responder de determinada maneira a uma situação dolorosa como a perda do trabalho, cabendo ao profissional de psicologia auxiliá-lo, caso necessário, para que essa experiência possa ser vivida de forma menos traumática e que represente uma oportunidade de crescimento pessoal e aprendizado diante de futuras perdas.
           

Teoria do Vínculo

            Falar em perda, seja ela simbólica ou concreta, é se referir a rompimento de vínculo. Bowlby (1993) é um estudioso que pesquisa os aspectos psicológico e biológico do luto, integrando psicanálise e etologia - estudo dos comportamentos específicos das espécies – em sua teoria do vínculo. Nesta teoria, o luto é estudado através dos comportamentos de vínculo afetivo. Essa perspectiva teórica é útil na proposta do presente artigo, visto que a relação do homem com o trabalho se dá também em uma dimensão afetiva.
            O autor supracitado desenvolveu uma teoria de vinculação, que diz respeito aos vínculos afetivos que são criados pela familiaridade e proximidade com figuras parentais no início da vida e que se mantém ao longo da vida e se estendem para outras relações. A teoria da vinculação afirma a necessidade universal que as pessoas têm de desenvolverem ligações afetivas de proximidade ao longo da vida com o objetivo de se sentirem seguras e poderem explorar o mundo, conhecendo assim os outros e a si mesmo. Essas ligações afetivas de proximidade, ou relações de vinculação, são aquelas únicas e exclusivas, que se tornam recursos importantes na procura de conforto e apoio e que consequentemente implicam em afetos intensos quando há uma separação. Essas relações contribuem de forma imensurável para o sentido de segurança interna que desenvolve-se ao longo da vida, são relações insubstituíveis e sua perda pode ser muitas vezes irreparável. A vinculação é uma interação dinâmica e não um laço estático, portanto o vínculo e o significado desse vínculo podem ser construídos e desconstruídos diversas vezes durante a relação. Isso também pode ajudar a esclarecer alguns sentimentos ambivalentes que podem surgir durante o processo de luto. Sendo assim, pode-se inferir que quanto mais forte e intenso for o vínculo ente uma pessoa e seu objeto de estima, maior serão o impacto e o sofrimento sentidos por uma ruptura real e irreversível desse vínculo, como por exemplo a perda do trabalho.
Segundo Bowlby (1993) o processo de luto pode ser compreendido em quatro fases: (1) o choque, (2) o desejo de busca pela figura perdida acompanhada de uma intensa saudade, (3) a desorganização e o desespero com tendências a culpar as pessoas próximas e, (4) a reorganização em que existe uma aceitação da perda. Entretanto, nem todas as pessoas experimentam essas fases, afinal o luto não é um processo linear. É por esse motivo que ele, também, não tem data para terminar e sua duração depende das características de personalidade do enlutado e do nível e intensidade da relação com o objeto. A adaptação à perda de um objeto de afeto envolve o esforço e o empenho por um certo tempo em tarefas básicas, que são: aceitar a realidade da perda, trabalhar a dor advinda da perda, ajustar-se a um ambiente onde o objeto está ausente e transferir emocionalmente o objeto e prosseguir com a vida.
A primeira tarefa é justamente aceitar a perda real e definitiva do objeto. A demora em completar essa tarefa pode acontecer pelo não acreditar na perda e implicar em diversos tipos de negação por parte do indivíduo, como negação de fatos da perda, do significado da perda ou da irreversibilidade da perda. A segunda tarefa diz respeito a trabalhar a dor da perda, entendendo como ela é vivenciada por cada um em particular. Sentir a dor, inclusive física, e passar por ela é fundamental no processo, que pode ser prolongado em algumas situações porque o enlutado evita ou suprime essa dor. Uma forma bastante comum de boicotar essa tarefa é “cortando” os sentimentos e negando que a dor existe. Esse embotamento afetivo é muito sério, e pessoas que na sua história de vida não se permitiam sentir e experimentar os mais diversos sentimentos podem ter maior dificuldade nessa tarefa. A terceira etapa do processo de resolução do luto trata da necessidade o sujeito de se adaptar ao ambiente onde o objeto está ausente. Existem três áreas da vida que requerem ajustamento depois de uma perda significativa: ajustamentos externos, que são sobre o funcionamento diário no mundo; ajustamentos internos, relacionados ao sentido do self (o eu subjetivo); e ajustamentos de crenças, onde considerações sobre o mundo são refeitas. Ficar preso nesta tarefa mostra uma significativa falta de adaptação à perda. A quarta e última tarefa pode ser a mais difícil, por mexer com sentimentos intensos e importantes e por exigir grande esforço por parte do enlutado. Para finalizar e encerrar da melhor forma possível o processo de luto,o sujeito precisa acabar com a necessidade de reativar a representação do objeto de uma maneira exagerada no cotidiano. Uma pessoa nunca perde as memórias de uma relação significativa, e isso realmente não precisa ser feito. Porém é preciso guardar as lembranças da relação significativa de modo que ela, ou a falta dela, não interfira na vida futura do enlutado.
            É possível traçar o paralelo, a partir da teoria do vínculo, entre a perda de uma pessoa querida e a perda do trabalho. Em ambas as situações uma significativa relação foi rompida, e o sujeito se vê em uma nova situação de vida. Em ambos os casos reações emocionais, comportamentais e até mesmo físicas emergem na tentativa de uma reorganização pessoal diante das novas demandas internas e externas.

O luto entendido como uma crise

Viver é sempre uma surpresa, a rotina é ilusória: todas as pessoas passam por crises em suas vidas, sem exceção. As mudanças virão, e consequentemente, a crise. Pode-se entender a crise como a vivência de determinada situação que demanda novas respostas que o sujeito não possui, não desenvolveu, não domina ou perdeu (Tavares, n.d.). Essa definição dá ênfase ao entendimento da crise como algo processual, sendo diferente da ideia mais difundida de que a crise se restringe apenas à manifestação sintomática. Para tanto, é possível identificar oito aspectos que compõem a crise. São eles a “demanda, condições internas ou externas, resposta, domínio ou capacidade, complexidade, processo, subjetividade e solução” (Tavares, n.d.).
Um ponto que chama atenção para a crise é a forma como ela se resolve, levando em consideração que ela acaba quando se alcança novo equilíbrio dinâmico. Quando resolvida positivamente, o indivíduo sai fortificado da experiência, pois adquiriu novas respostas frente a determinadas situações da vida, ou seja, tem-se o aumento progressivo do repertório de respostas e competências, promovendo um novo estado de equilíbrio dinâmico. Outros dois desfechos para a crise seriam a estagnação, em que o sujeito busca ajustar-se à situação procurando evitá-la e por isso se acomoda em nível inferior do que se imagina alcançar; e a outra maneira seria a cristalização de sintomas significativos e requer, portanto, a vivência da fase crítica da crise (Tavares, n.d.).
O luto pode ser entendido como uma situação de vida que, em  alguns casos, desponta uma crise. Ele é caracterizado como um processo de assimilação da perda e por um esforço para se aceitar o que não se pode mudar. Ter o vínculo com um objeto de investimento afetivo e emocional rompido é uma experiência única, que é entendida nos âmbitos sociais, emocionais, culturais e somáticos. Mesmo sendo um processo penoso, essa crise quando resolvida positivamente pode ser entendida como normal e necessária para a superação da perda (Silva, Carvalho, Santos & Menezes, 2007). Além disso, pode ser compreendido como a fase de expressão dos sentimentos da perda e de aprender que a morte se torna real, impelindo o indivíduo a estabelecer novas concepções de mundo.
Sob a perspectiva de Freud citado por Medina, Jiménez, Criado e Laborda (2000), o luto consiste em aceitar a realidade da perda e ir desligando a libido do objeto perdido. Já Sanders (1999), considera o luto como a representação de um estado experiencial que a pessoa sofre após tomar consciência da perda. Então, segundo essa teoria, o luto seria doloroso por ter que desligar-se do objeto perdido e manter internalizados seus traços (Bromberg, 1994).
Diante do exposto, o luto se encaixa na definição de crise, em que uma nova situação – no caso a perda do trabalho – demanda uma nova resposta, que nesse caso, consiste em uma espécie de superação, de adequação a ausência dessa condição. O luto, assim como outras crises, terá um desfecho satisfatório se houver crescimento e amadurecimento após o enfrentamento dessa experiência de perda, se o resultado dessa vivência possibilitar a criação ou o desenvolvimento de um coping mais sofisticado e adaptativo que permita lidar com situações futuras mais facilmente. Essas tarefas parecem ser essenciais para que a crise vivida diante da perda vá, aos poucos, sendo solucionada.


Dimensão interna e externa na elaboração do luto
           
            A questão fundamental em qualquer perda é o valor afetivo que consciente ou inconscientemente é atribuído ao objeto perdido. O investimento afetivo destinado ao objeto é ponto chave no processo de luto, que pode se desenvolver de forma normal ou patológica. No luto denominado normal, há o sofrimento, a vivência da perda e a percepção da irreversibilidade e concretude da perda. Parte do ego é projetada no objeto, porém há um esforço psíquico em recuperar aspectos reais da perda e assimilação da experiência boa na relação com aquele objeto. No tempo que o processo demandar, o impacto da perda vai dando lugar à possibilidade de novos vínculos substitutivos e ao investimento da libido em outras atividades. Já no luto patológico, a libido que deveria ser investida em outro objeto volta-se para o próprio ego, desencadeando uma identificação com o objeto perdido e ativando a autocrítica do superego, que pode resultar em hostilidade contra si mesmo. Não efetuar uma reparação bem sucedida do objeto perdido aumenta o sentimento de desespero e desamparo no enlutado, enquanto uma boa reparação proporciona esperança renovada (Klein, 1940). Na reparação, a dor da realidade da perda é experienciada juntamente com a tentativa de fazer algo a respeito desse sofrimento, restabelecendo-se o objeto interno bom.
            Além do mundo interno para o qual o enlutado se volta (funções do ego, mecanismos de defesas e atitudes), a fim de viver o processo do luto de forma saudável, é preciso que o sujeito busque aspectos da realidade para a elaboração do objeto perdido. As sensações de insegurança, perigo, desorganização e tristeza são inevitáveis, porém podem ser menos intensas quando há um trabalho de reorganização da vida, onde o objetivo não é se opor ao esquecimento ou à falta, mas sim à crença de que não há mais sentido na vida. No caso do luto pela perda do trabalho, o processo do luto seria beneficiado pela relativização das posições de vítima e culpado, ressignificação do que é trabalho, reflexão sobre o tipo de relação que se estabelecia com o trabalho e sobre as condições nas quais o trabalho se realizava e visualização da situação de desemprego. A própria identidade das pessoas muitas vezes se confunde com seu trabalho, visto que o processo de trabalho e seus resultados ajudam o indivíduo a formar sua identidade. Entretanto não é saudável que essa identificação seja tal que sujeito e trabalho tornem-se indissociáveis. Considerando a imaginação o ela entre a realidade e a fantasia e compreendendo que o processo de luto exige o equilíbrio entre as demandas externas e internas, a imaginação articulada à criatividade pode mudar a forma de perceber o mundo. Confiando nos objetos bons internalizados, criar e desenvolver novas formas de ser no mundo são plenamente possíveis. Dedicar-se a outras atividades, ampliar habilidades e aproximar relações interpessoais são uma maneira de reconectar-se também com o mundo externo. Existem outras formas de se relacionar com o mundo além do trabalho, e essa procura pode ser o caminho cheio de agradáveis surpresas na elaboração do luto.
           

Considerações finais

Não seria a pressão que o indivíduo sofre quando perde o trabalho, e o consequente sofrimento e luto, um reflexo da hegemonia do utilitarismo? Por mais que o trabalhar seja dimensão de importância inquestionável na vida, quando a relação com o trabalho se torna apenas um meio de alcançar lucro e produtividade nos negócios, o indivíduo não é mais sujeito do seu ser-no-mundo e sim escravo da economia vigente e peça da engrenagem cruel que é a sociedade utilitarista. Quando a subjetividade é ameaçada para dar lugar ao trabalho como mercadoria, o indivíduo, inevitavelmente, reage afetivamente a isso. A ameaça à integridade do ego demanda uma resposta comportamental e afetiva, que pode surgir na forma de depressão, ansiedade ou outra condição psíquica grave. Muitas vezes o equilíbrio entre as exigências externas e a tentativa de manter o self íntegro levam a uma resposta desadaptativa e prejudicial para o indivíduo. Nessa dificuldade de lidar com a crise que pode ser a perda do trabalho, o indivíduo precisa desenvolver recursos internos para lidar com a situação desestabilizante e buscar a homeostase inicial.
 Para além da crítica sobre a atual forma de se relacionar com o trabalho, e suas correlações econômicas e políticas, o homem desenvolve sua maneira particular de viver suas atividades diárias. Trabalhar, independente das características do trabalho, é o que há de mais próprio e comum na interação do homem com o mundo. Seja através do meio acadêmico ou do autodidatismo, seja assalariado ou voluntário, seja dentro de uma grande organização ou autônomo, o trabalho é parte importante da vida. Ele é uma das formas de nos posicionarmos no mundo, de contribuirmos no desenvolvimento da sociedade, de externalizar o que somos internamente, de transformar quem somos. Nossa experiência com o trabalho vai muito além do status social, do salário e das tarefas que precisam ser cumpridas. Há um envolvimento cognitivo e, sem dúvidas, afetivo, que está intimamente conectado com os significados do trabalho e o sentido que damos a ele. Portanto, é completamente plausível imaginar o sofrimento pelo qual uma pessoa que não pode mais trabalhar passa. Seja demissão, aposentadoria, doença ou qualquer outro motivo, deixar de realizar algo tão estruturante e psiquicamente organizador transforma o modo como interagimos com nós mesmos e com o mundo.
O luto decorrente da perda do trabalho é uma situação que qualquer pessoa pode vivencia a qualquer tempo, sendo assim esse sofrimento não pode ser negligenciado. É um sofrimento legítimo, real e pessoal, porém não precisa ser uma vivência que leve a condições psíquicas mais graves e incapacitantes. O impacto do luto é questão subjetiva e precisa ser bem avaliado para que sejam identificadas as medidas de intervenção a serem propostas, que podem ir desde o fortalecimento da rede de apoio social até um processo psicoterapêutico a longo prazo. A psicologia clínica precisa ser uma ajuda psicológica voltada, também, para o campo do trabalho e do desemprego, onde o espaço terapêutico se constitua em uma oportunidade de questionamento sobre quem se é e - indissociavelmente – sobre onde se está. Uma interrogação sobre si mesmo e sobre o mundo que se move. A psicoterapia pode assumir um lugar de contraponto à incerteza, ameaça e adversidade para aqueles que estão na situação de perda do emprego, e promover o acolhimento a essas pessoas.


Referências Bibliográficas


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